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Tabata Amaral: Inimiga ou Rainha?

Ontem, dia 14 de outubro, Tabata Amaral foi entrevistada no Roda viva. A conversa começou gentil, mas logo se encaixou na dinâmica contemporânea do programa — a provocação. Se é essa a estratégia com Glenn e Salles, justo que seja também com a deputada. Afinal, ela não é uma boneca de porcelana, é uma cientista política com opiniões estruturadas.

De opiniões, pode-se discordar, de identidades e existências não. Discordar da existência de um ser é violência e abuso, é defender o genocídio literal e/ou epistêmico (algo que quando acontece em escala estatal se torna fascismo). Tabata é uma mulher e é jovem, se a discordância brota deste lugar, concordo com ela quando diz que isso constitui discriminação. Aonde brota a discordância? Brota na divergência de definição de certos conceitos.

Empreendedorismo, por exemplo, para Amaral é se doar e “botar a mão na massa”, enquanto para mim, significa se dedicar a um negócio ou empresa. Caridade e empreendedorismo são conceitos quase opostos, por que para uma empresa ser bem sucedida ela deve evitar distribuir ao ponto de abrir mão do lucro.

Outro conceito difícil de concordar é o de que aborto é responsável por matar mulheres pobres e negras. A falta de acesso ao aborto seguro é o que mata. E como um dilema ético pode ser pessoal quando envolve politicas públicas? Se fosse pessoal bastaria a própria deputada nunca passar pelo procedimento.

O feminismo que defende o direito ao aborto está longe de ser elitista. Elitista é lutar para colocar mulheres na política e em posições de poder. Esse feminismo burguês, que aplaude figuras como Margaret Thatcher, não visa combater o patriarcado, visa o expandir e o tornar ainda mais eficaz.

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texto: Mirna Wabi-Sabi