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A Questão da Felicidade

Vivemos no Brasil, um país tão miserável que só aumenta as chances de sermos mais que nem House. De não termos nenhuma perspectiva de futuro como coletividade e como indivíduos dessa sociedade.

Enquanto eu via House, um simples programa de TV americano, percebi o quanto eu me conectava com o seu personagem. Um personagem que lida com a dor numa base cotidiana e sua infelicidade é um dos marcos da sua personalidade. Eu me identifiquei imediatamente com a insuportabilidade de sua condição como ser humano. A dor de ser uma dependente química, que nem ele, que está sempre sofrendo com uma ansiedade excruciante. Essa ansiedade não é apenas minha, mas de várias pessoas que vivem numa sociedade decadente como a nossa.

A infelicidade dele não é incomum, na verdade, é simplesmente a condição mais comum hoje em dia na nossa sociedade. Os mercados que mais crescem são os de remédio e bebidas, as pessoas estão exaustas num mundo devastador criado pelo capitalismo em que a miséria só cresce e a pressão de conseguir um trabalho e uma vida minimamente razoável é tão dura. O não se aguentar do personagem, a autodestruição, fala diretamente com a vida de milhares de pessoas.

Isso se deve a decadência de uma sociedade capitalista que cada vez mais as pessoas estão perdendo o sentido de suas próprias vidas e não conseguindo enxergar um futuro para elas, e não tem um futuro promissor como sociedade de fato no sistema em que estamos. Esse personagem, que a série tinha a intenção de mostrar como ele é complexo é, na verdade, muito simples, ele é a maioria das pessoas, tirando a parte dele ser um gênio, e não o contrário.

Vivemos no Brasil, um país tão miserável que só aumenta as chances de sermos mais que nem House. De não termos nenhuma perspectiva de futuro como coletividade e como indivíduos dessa sociedade. Apenas estando na luta revolucionária pode nos tirar do desconforto e nos dar uma visão de futuro, de nos dar esperança. Saber que você está lutando pela libertação de inúmeras dores; a dependência química, que é uma epidemia; o desemprego; as mortes de jovens negros; a dor das mães que perderam os filhos nas mãos de uma polícia homicida; a falta de felicidade; a depressão; a cada vez maior crise de ansiedade entre jovens e adultos; de uma verdadeira liberdade.

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texto: Ana Botner