Com o assassinato do General iraniano, Qasem Soleimani, em Bagdá, logo na virada da segunda década do milênio – perante o calendário ocidental – retornamos com a discussão duma possível Terceira Guerra Mundial em curso. Ação que foi orquestrada pelos os E.U.A. – maior democracia liberal imperialista – acabou também com a morte de outro político iraniano. Diante dessa discussão não poderíamos deixar de tecer uma crítica anarquista a respeito deste tema: Guerra.
Nos últimos anos, depois do empresário Donald Trump assumir a presidência dos Estados Unidos, o mundo viu-se em um fogo cruzado após o presidente realizar diversas declarações ameaçando o governo da Coreia do Norte, na figura do Líder Supremo, Kim Jong-um. Não demorou para os principais veículos de comunicação de massa passar a noticiar que o mundo poderia estar caminhando para uma Guerra, protagonizada por duas grandes Estados-Nações, as quais supostamente ocupam na Geopolítica os dois extremos da Político-econômica – de um lado o E.U.A (Capitalista), do outro, Coreia do Norte (Socialista). Segundo alguns jornalistas e analistas das grandes mídias burguesas, essa disputa seria desdobramento da Guerra Fria cujo seu fim nunca foi de fato decretado. Depois de várias ameaças de invasão e bombardeamento de ambos os lados; com outras palavras, caricatamente falando, após as carícias trocadas pelos dois tiranos, realizam um encontro no qual apertaram as mãos, simbolizando um acordo de paz.
Esse episódio nos revela, entre outras coisas, a farsa dos governos ao tratar do interesse da “nação” e como o terror e a guerra é utilizada não como última instancia ou alternativa, atestando o caráter genocida dos governantes que não hesita em mobilizar a população para por sua vida em risco.
Voltando ao fato recente, da quinta-feira passada (02/01/2020), Donald Trump alega que o ataque serviu como vingança dos estadunidenses que morreram nos últimos anos em solo iraniano. Argumento que só poderia ser engolido se não conhecêssemos o imperialismo dos E.U.A que já protagonizou e esteve envolvido em inúmeros ataques, assassinatos, sabotagens, golpes, guerras, praticamente em todas as regiões do mundo, sobretudo, nas últimas décadas, no Oriente Médio, burlando o jogo “Democrático” que ele mesmo, o governo E.U.A – e todos os outros -, diz ser o maior defensor. Os reais motivos, já estamos “carecas de saber”, embora não sendo o suficiente para o sentimento anti-imperialista e anticolonialista ser conscientemente defendido por toda população mundial: influência, monopólio de recursos, disputa por hegemonia na região.
Neste cenário, o mundo retorna com a sensação de medo, desespero generalizado e muito meme para fazer rir e ludibriar. Vale ressaltar o papel da mídia burguesa e tradicional neste contexto, com a função, entre outras coisas, de difundir em larga escala o medo em toda sociedade, além de desenformar na medida em que narra e julgar que se houvesse uma Guerra, ela nos pertenceria e teria a ver com os nossos interesses.
As Guerras e conflitos promovidas pelos Estados, nada tem relação com o interesse das classes populares, não passam de disputas que visam atender as ambições das classes dominantes desse e/ou daquele país, com a finalidade de expandir o monopólio dos recursos mediante a exploração e opressão, logo visa a concentração de capital. Como o capital não sobrevive sem o Estado, a guerra, por sua vez, como diria Randolph Bourne em O Estado (1919), “A guerra é a saúde do Estado”, nesse sentido, os países instrumentalizam a guerra com a finalidade, entre outras, de conservar e ampliar monopólio das riquezas – que a priori é de usufruto de toda humanidade -, com a narrativa ilusória, porém mobilizadora, de se tratar do “interesse da nação”.
Seguindo o raciocínio, e pegando como exemplo o recente assassinato do político/burocrata iraniano, assumida publicamente pelo presidente dos Estados Unidos, é necessário expor que estamos diante de um acontecimento, que independente dos desdobramentos, os interesses que estão em disputa nada mais são que interesse exclusivos das classes dominantes em campo – aqueles que nos exploram.
A notícia chegou para nós, brasileiros, com muita força, por todos os meios de comunicação. Consequentemente muitas questões foram surgindo logo depois que o povo tomou conhecimento do caso, como: alistamento e serviço militar; o Brasil nessa Guerra. E diante dessas questões, as quais não são novas, é necessário fazer a crítica (sempre atual) anarquista do Militarismo e Patriotismo.
Podemos pensar esses dois temas no contexto da Guerra, pois elas se manifestam neste lugar na medida que os indivíduos que nascem em um certo território, e no cenário de guerra são obrigados e/ou induzidos a servir o País em uma localidade desconhecida para matar e morrer pela Pátria. Com essa imagem em mente, o Anti-Militarismo e Anti-Patriotismo, defendidos pelos anarquistas, vem para se opor a falsa ideia de que o Estado publica, e absorvemos, que os interesses da Nação são os mesmos dessas pessoas, formulação que não passa de uma mentira criada para morrermos por interesses profundamente estranhos aos nossos. Não basta para Estado e o Capital promover e sustentar a morte de negros e negras, mulheres, LGBTGIA+, pobres e marginalizados, querem ainda que defendamos seus negócios em outros territórios.
Nessa perspectiva, recusar o serviço militar é deveras uma atitude legitima, prática essa desobediência civil é sim uma atitude digna e deve ser realizada por qualquer pessoa, inclusive, pensando em outras estratégias, sonegar impostos, como fez Henry David Thoreau quando se negou a financiar indiretamente o governo dos E.U.A na guerra contra o México (1846-48) através dos impostos.
Para nós, a luta que vale a pena ser lutada são aquelas que fazem a defesa da existência plena; de uma vida satisfatória e livre em comunidade – intoleráveis e inconcebíveis pela classe que alimenta a atual estrutura socioeconômica.
Visando atender esses anseios e necessidades que construímos grupos, coletivos e movimentos de diversos tipos para nos defender, nos instruir e reagir contra as opressões sociais que nos matam fisicamente e subjetivamente. Tais associações são construídas no campo, na cidade, por comunidades tradicionais (quilombola, indígena, pescadores e pescadoras, etc.), por novas comunidades, como as periféricas. Essas organizações geralmente apontam para princípios vivos que tem a potência de revolucionar e superar a ordem estabelecida, antecipando qualquer teoria fantasiosa e pretensiosamente iluminada de razão, muitas vezes tão autoritárias e limitantes quanto a ordem vigente, e outros conceitos igualmente necessários e emergenciais: autogestão, horizontalidade, autonomia, solidariedade, apoio mútuo, ação direta, autodefesa, antirracismo, anti-sexismo, anti-lgbtfobia, antiopressões.
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texto: Almeida