Em sua essência, a ideologia de direita representa sempre a existência de forcas sociais empenhadas em conservar certos privilégios, isto é, conservar um sistema político-econômico que garante o estatuto de propriedade a tais forças privilegiadas. Ai está o conservadorismo intrínseco da direita.
A ideologia de direita se vê encarcerada em uma contradição interna: quanto mais ambiciosos são seus ideólogos, mais eles procuram a universalização dos princípios que estão trabalhando para elaborar e desenvolver no campo conservador. O que retira o caráter pragmático e conservador – no sentindo estrito da palavra – que seria conservar as tradições de seu país, seu caráter particularista.
A cínica confissão de um caráter pragmático enfraqueceria a posição de um ideólogo conservador na disputa pelo interesse e apoio das massas. Tais princípios revelaram da conquista das consciências uma eficácia mistificadora superior a da secura pragmática.
Daí nasce o fascismo. O autor Leandro Konder expõe em sua obra a mentalidade de Mussolini. Konder diz em seu livro “Introdução ao fascismo” que Mussolini entendia que o movimento ideológico se beneficiaria cada vez mais com sua super relativização – a falta de conceito rígido.
O fascismo é a única das ideologias em espécie que não possui um caminho. Não tem uma finalidade. Eles têm uma direção rígida sobre o que querem destruir, mas não sobre o que querem construir. Mussolini criou um mito na Itália, o mito da nação. O fascismo fez com que os proletários vissem os seus opressores como parte de sua nação, como compatriotas. O que iria ser essa nação no final nunca foi explicado e não poderia ser explicado, já que não tinha plano nenhum. A questão era o poder.
Ainda há uma controvérsia se o fascismo é ou não uma ideologia em si, já que não possui essa finalidade que o socialismo ou o liberalismo possuem. Os socialistas definiam o fascismo apenas como a reação dos elementos mais chauvinistas da burguesia para manter seu status.
Andrew Heywood tem um livro de introdução a ideologias e nela ele descreve as características do fascismo como anti características: anti intelectualismo, anti comunismo, anti liberalismo e assim em diante.
O movimento fascista se identificava, segundo o livro de Konder, como tão moderno que ainda não poderíamos entende-lo.
O filme Saló ou 120 dias de Sodoma mostra perfeitamente a face do fascismo de que as principais figuras beneficiadas pelo regime não seguiam a moral que era imposta pelos discursos e agitações de seus líderes. Eles viviam de sexo e para o sexo. Esse é um dos poemas declamados no começo do filme:
They do not know that the bourgeoise
Has never hesitated to kill its sons
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Eles não sabem que a burguesia
Nunca hesitou em matar seus filhos
A moral sempre foi para as massas e apenas para elas.
No começo do filme temos uma frase que caracteriza bem o fascismo: “todas as coisas são boas quando levadas ao excesso.” Típica frase de movimentos futuristas que influenciaram muito os fascistas da época. Tudo tinha que ser rápido e moderno.
A ordem e a disciplina são apenas um lado do fascismo. A libertinagem pode ser outro lado. E um lado perigoso. Já que ninguém presta atenção.
Tem outra frase, talvez a mais importante do filme, para os anarquistas de verdade. Um dos personagens diz: “Nós fascistas somos os verdadeiros anarquistas, quando temos o poder do Estado. A verdadeira anarquia é poder.’’
Os fascistas de hoje ainda deturpam essa definição e se mascaram como anarquistas, e pegam nosso nome deturpando o que defendemos e combatemos. Para os que se consideram verdadeiros revolucionários devemos tomar muito cuidado com esse tipo de discurso e quem está a nossa volta.
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texto: Ana Botner