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Soja – Parte 1 de 2

Não falaremos das cores que ali habitam, de como os tijolos laranjas marcam as casas, sejam elas pintadas, pichadas, manchadas ou lavadas, na segunda-feira de manhã, ou se as comunidades não estiverem de luto por alguma coisa (não falaremos disso hoje).

Vamos lá.

Hoje, darei um descanso a vocês. Não vou falar sobre morte, mazelas ou desgraças sociais acontecendo a torto e a direita (eca) no país. Hoje falaremos de coisas boas.

Não gostaria de falar sobre o cheiro lixo que sobe – ou sobre quem sobe nele – quando está cheio. Pare um pouco de pensar sobre a favela, nas suas faunas e floras bastante diversificadas, rodeadas de bichos esquisitos que só vemos lá e plantas específicas que te fazem ver os bichos. Não falaremos das cores que ali habitam, de como os tijolos laranjas marcam as casas, sejam elas pintadas, pichadas, manchadas ou lavadas, na segunda-feira de manhã, ou se as comunidades não estiverem de luto por alguma coisa (não falaremos disso hoje.).

Hoje não falarei de guerras, nem sobre como pegar em armas e apertar um botão/gatilho é reprimir e silenciar a pessoa que está a sua frente, até ela cair dura no chão e assim te satisfazer (pelo menos ele não levou seu relógio). Nem de como a Síria deve estar agora ou como Abu Dhabi é tecnológico e quente. Ambos são lugares lindos e maravilhosos. Nem mesmo vou tocar no assunto sobre o petróleo. Deus me livre falar sobre petróleo.

Ah, não vou esquecer. Não vou falar hoje sobre religião, nem sobre como a ideia torta que foi difundida sobre Ele influencia, influenciou e (se deus quiser) influenciará a humanidade a tomar as piores decisões possíveis. Nem tampouco, sobre as controversas atitudes daqueles que o seguem, enquanto mascaram seu mau-caratismo com uma bíblia embaixo dos braços e chutam ou quebram as magias dos seus irmãos, numa rua de encruzilhada.

Não quero falar sobre falta de ar, ou sobre a possibilidade de roubar o ar de alguém somente por sair de casa durante este grande evento mundial, sem os devidos cuidados, para farrear. Não quero falar de leitos ou de locks’s ou down’s que já duram quase um mês, podendo sim ter pensado em possibilidades para quem não tem o que comer.

Não quero falar de educação, pois lembro de escolas sucateadas e consigo visualizar as sucatas dentro delas, virando arte nas mãos de professoras e professores que se remexem em meio ao lixo para ensinar as crianças que os 3 R’s (REDUZIR – RECICLAR – REUTILIZAR) podem sim ser uma solução para que o planeta não se destroce ainda mais.

Hoje eu nem quero estar aqui, falando com você ou pensando em cada momento em que passamos juntos, histórias ou piadas que contamos ou rimos (mesmo que pouco), e como eles têm um significado para mim. Sobre como as lembranças de momentos difíceis e felizes se sobrepõem e colocam peso nas nossas balanças mentais. Sobre como um pedido de desculpas pode mudar tudo e sobre o quanto não falar com alguém pode ser grave e potencialmente letal.

Hoje eu queria pensar em somente uma coisa. Você já experimentou Hambúrguer de Soja?

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Texto: Lucas Mahacri
Fotomontagem: Janayna Araujo