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Livros Fazem Revoluções

Não podemos nunca esquecer o papel da imprensa revolucionária num processo de mudança social radical. Hoje em dia não temos grandes jornais ou uma quantidade considerável de panfletos que atinja o povo e desmoralize esse sistema, mesmo que ele esteja se desmoralizando por si mesmo.

Toda mobilização social começa com a imprensa, que captando o começo de uma nova era, divulga novos valores por meio de veículos de comunicação. Roger Chartier, um historiador interessantíssimo, publicou um livro chamado Origens Culturais da Revolução Francesa, onde em um dos capítulos ele indaga se livros fazem revoluções. Qual é o real papel da imprensa e das ideias em revoluções e reivindicações populares?

Ele começa o capítulo citando Alexis de Tocqueville, para quem pessoas de letras não só incentivaram uma mobilização social como mudaram radicalmente a visão de mundo de todos os leitores da época. Para Tocqueville, com seus panfletos e ideais, elas moldaram uma identidade nacional e transformaram uma visão de mundo completamente progressista para a época. Mesmo com toda a censura do antigo regime, os livros dos principais filósofos, como Voltaire, circulavam clandestinamente.

Também pode se notar um aumento considerável no hábito de leitura entre os cidadãos franceses. O índice para homens subiu de 29% para 47% e os das mulheres de 14% para 27%. Na França pré-revolucionaria existiam as bouquinistes, que seriam o equivalente a bancas de jornais onde o público de classes mais baixas comprava panfletos e consumia literatura “incendiária”.

O que a imprensa fez na França pré-revolucionária foi desmistificar e deslegitimar a monarquia e seus rituais. Todo esse material proibido ficava na bastilha. O que para Louis-Sébastien Mercier, um escritor francês que trabalhava para o governo, quanto mais o material era proibido mais as pessoas ficavam ávidas para lê-lo.

Por outro lado, Mercier também avisa que o número de pessoas que realmente liam os filósofos com novos ideais para a época era ínfimo comparado com panfletos de pura piada com o regime e panfletos pornográficos. Só que a desmoralização do sistema monárquico foi se fortalecendo por conta desses panfletos “incendiários.”

Não podemos nunca esquecer o papel da imprensa revolucionária num processo de mudança social radical. Hoje em dia não temos grandes jornais ou uma quantidade considerável de panfletos que atinja o povo e desmoralize esse sistema, mesmo que ele esteja se desmoralizando por si mesmo. A direita se mostrou mestre em domar os meios de comunicação, enquanto a esquerda fica para trás. Precisamos retomar os panfletos revolucionários e a divulgação em massa destes. Até agora os panfletos e os jornais impressos não apresentam ameaça nenhuma para a ordem estabelecida pelo capitalismo.

E, além disso, precisamos de novos filósofos, do nosso tempo, para refletir e propor ideais que comportem a vida contemporânea e como essa transferência de um sistema para outro vai ser estabelecida nos tempos de hoje.

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texto: Ana Botner