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“Hoje é dia de El rei”: Mais um dia de racismo

“De fato, a história deu prosseguimento e muito mudou, mas no nosso dia-dia, evidentemente, o racismo permanece. Na verdade, novas formas de extermínio e subjugo foram inventadas e a população preta e pobre continua sendo o alvo.”

Salvador: cidade em que quase 80% da população é negra. Sua história de maneira alguma pode ser separada da escravidão ocorrida por centenas de anos desde à invasão europeia ao que chamaram América. De fato, a história deu prosseguimento e muito mudou, mas no nosso dia-dia, evidentemente, o racismo permanece. Na verdade, novas formas de extermínio e subjugo foram inventadas e a população preta e pobre continua sendo o alvo.

Dia seis de fevereiro de 2020, nos jornais e nas redes sociais relembra-se da Chacina do Cabula, até porque hoje fazem cinco anos do ocorrido. Nessa mesma semana, um jovem negro foi brutalmente espancado por um policial e o ato que fora filmado se espalhou pelos meios de comunicação, indignando muitas pessoas, trazendo aos holofotes uma situação cotidiana. Na internet podemos encontrar diversos canais que denunciam essas violências, no entanto, só agora – graças a grande repercussão do ocorrido – a “grande mídia” deu atenção, e não por acaso.

A mídia pouco expõe as violências policiais pois ajuda a criar a ilusão de que são casos isolados. Aliás, foi esse o posicionamento do governador Rui Costa do PT – “caso isolado”. Vemos que a manutenção das técnicas de controle e subjugo do Estado possuem uma conformação específica para abafar a economia do extermínio por eles gerida, através da mídia com seu discurso aparentemente neutro, a partir do discurso da guerra às drogas, pela paz e pela segurança. Essas técnicas compõem estruturalmente as instituições e as mentalidades, elas são investidas pela esquerda, pela direita, por diversas frentes políticas. Os governantes, a mídia, o direito, etc, enganam e se organizam para gerir a política do extermínio e o abafamento de tal fato.

Tarefa praticamente impossível dado a recorrência com que ocorrem. É curioso que ao mesmo tempo, nos meios de comunicação, não é difícil encontrar a denúncia do genocídio do povo negro e as vezes ela até se torna objeto de disputa de política pública, mas na prática constitui uma peça necessária da própria sistemática de nossa sociedade desigual. A intervenção à pobreza se dá pela força, as políticas públicas são insuficientes para mudar o quadro geral, e no final acabam servindo apenas como objeto de falsas promessas e esperanças, ou como material para balanços estatístico – ainda que mude a vida de alguns poucos.

No final, para eles são apenas corpos descartáveis, números em um noticiário, falsas promessas. Temos que nos perguntar, a quem beneficia essas guerras? Quem lucra em cima disso, quem constrói uma imagem em cima disso só por mais poder. E a partir daí, denunciar e se organizar para confrontar esses que jogam com as vidas alheias. Sejamos agentes transformadores e jamais nos acostumemos a essa realidade. Se a escravidão caiu, foi porque os escravizados jamais aceitaram a sujeição e lutaram com todas armas de que dispunham. Se queremos derrubar também o atual modelo de racismo, precisaremos lutar com todas nossas armas. E se nos faltar força, lembremo-nos dos que nos antecederam e jamais desistiram.

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Texto: Rauan Fernandes

Foto: Rafael Bonifácio